Kyungmi estava se divertindo enquanto cuidava dos filhotinhos de cachorro. Tinha encontrado um anúncio da Universidade de Cheju Halla na internet e se inscreveu no evento no mesmo instante, afinal, quem em sã consciência recusaria um dia inteiro com doguinhos treinados para se tornarem cães-guia?
Ela estava radiante, acariciando as barriguinhas peludas e até latindo de volta para alguns que a respondiam com aqueles ganidos fofos. Sabia que os cães mais velhos não podiam receber esse tipo de carinho tão livremente, então se esbaldava com os filhotes. O problema era que... ela queria um. Um pet. Qualquer pet. Cachorro, gato, talvez até uma tartaruga dramática mordedora de pé. A vontade era tanta que começou a sentir uma leve tristeza crescendo no peito.
Foi quando pediram para ela levar um casal de filhotinhos até uma salinha mais silenciosa para descansarem. Sem pensar duas vezes, ela já estava ninando os pequenos nos braços como se fossem seus bebês. Só que, ao se aproximar da tal sala, percebeu que não estava vazia, havia alguém lá dentro. Seus olhos brilharam. Mais alguém pra conversar sobre como aqueles doguinhos!
Cheia de energia, escancarou a porta num impulso e só se deu conta do erro quando os filhotes reclamaram da luz com choramingos tristes. Fechou a porta num estalo e fez uma careta de desculpas.
Só não contava em ser recebida com um comentário malcriado daquele cara que estava na sala.
— Se eu soubesse ler, teria lido, tá?! — rebateu na defensiva, já recuando com as costas na porta e tentando abri-la de novo.
Mas a porta... não abriu. Ela girou a maçaneta mais uma vez. Nada. Respirou fundo e soltou um suspiro dramático, já aceitando o destino trágico de estar presa com um antipático. Bateu a mão pela roupa que usava e se deu conta que não estava nem com o celular. Ótimo, agora tinha mais isso para adicionar em sua grande lista de derrotas.
Sim, havia uma placa no chão. Sim, ela leu. E sim, chutou a bendita pro canto antes que o homem notasse. Paciência. Não que fosse mudar alguma coisa agora. Estavam trancados.
oh viver seu primeiro clichê! ( pelo menos tem cachorrinhos ) @talktomi
O evento era na Universidade de Cheju Halla, e alguns dos professores haviam se disponibilizado para auxiliar a instituição que treina cães guias. Yoonhak já muito namorava a ideia de adotar um bichinho, mas o fato de hesitar demais já lhe era um sinal vermelho. Aceitar ajudar no evento que apresentava todo o trabalho da organização, bem como os futuros cachorros que seriam a visão de alguém, foi uma tentativa de se ajudar também. No ginásio enorme, vários cercados tinham sido montados. Não queriam arriscar uma das chuvas surpresas da primavera. Entre os filhotes de labradores e golden, e outros não tão filhotes mais, Yoonhak sorria muito mais que o normal. Se encontrava energizado e encantado. Yoonhak quase não ouviu quando pediram para que ele fosse buscar mais garrafas de água na salinha que estavam a usar não só como estoque, mas um lugar para deixar os cachorrinhos mais novinhos que dormiam. Não que fossem mantê-los ali, mas, se havia entendido correto, eles tinham lá seu momento necessário de descanso e a agitação e barulheira de fora era boa. Ele foi, e devia ter prestado mais atenção na sua intuição que gritou que as fitas que seguravam papel colocado na porta, avisando para que não fechasse completamente, não aguentaria muito. Era a única sala que tinham no ginásio, no entanto. Yoonhak entrou tentando deixar o prendedor bem colocado na soleira da porta, não podendo deixá-la aberta por completo pelos cachorrinhos amontoados atrás de outro cercado montado. De costas, tirando os pacotes com galões de água de um 1L, Yoonhak só ouviu o som do trinco batendo. Ele se virou com o peso nos braços e a maior cara de: mentira, cara. “Tinha literalmente uma placa na porta, ô, caralho.” não conseguiu engolir nem o suspiro alto. Foi automático lembrar que ao menos ele nem com o celular estava - um belo clichê.
KWON EUNBI? Até que parece, mas não é. Aquela é LEE KYUNGMI, classificada como ÔMEGA. Ela tem VINTE E NOVE ANOS e é natural de SEONGNAM, COREIA DO SUL, mas atualmente está residindo aqui perto em EUNBIT CHAE. Atualmente, trabalha como STREAMER. Dizem que é muito TAGARELA e ENERGÉTICA. E também pode ser ESQUENTADINHA e VOLÁTIL, acredita? Mas quando passa, deixa para trás aquela essência de CEREJA COM NOTA DE CHAMPANHE.
Personalidade
Dona de uma personalidade volátil, alegre e bastante energética, Kyungmi adora conversar, fala até pelos cotovelos e está sempre em busca de algo para fazer. Não gosta de nada que seja planejado e detesta, acima de tudo, coisas entediantes. Isso não é para ela, gosta do agito e nem precisa ser festas, gosta de algo para sentar e conversar por horas, e pessoas que estão sempre embarcando nas loucuras inesperadas que ela arruma. Por mais simpática que Kyungmi seja, ela passa por períodos hormonais onde se torna muito temperamental e se não gosta de algo, nada tira isso da cabeça dela. Seu humor é volátil e acredita no ódio à primeira vista.
Headcanons
Uma streamer famosa que teve férias patrocinadas em um país onde não conhecia nada, e por mais que fossem férias “patrocinadas”, estava animada com tudo que estava conhecendo e aproveitando para aprender mais sobre a moda local, as maquiagens, os lugares e, principalmente, o idioma. Kyungmi sempre foi uma turista animada e curiosa, sempre se metendo em problemas e gravando isso. O passatempo favorito dela era gravar os estabelecimentos sem querer nada em troca, subir em suas redes e se divertir com os comentários das bobeiras que apronta. O canal dela é uma bagunça e por isso faz sucesso, ela tem vídeos vlogs, jogando algo novo e de reacts.
Ela criou o canal de forma aleatória. Foi uma loucura momentânea que acabou dando certo e sem notar se viu tendo vários inscritos. Trancou a faculdade de medicina para ser livre sem limites.
De repente, ela recebeu um convite para ir a Curaçao em um período de férias e gravar suas aventuras, com a possibilidade de estabelecer um contrato no país e também seu estúdio de gravação. Ela precisaria aprender o idioma e cativar o público local. Até pensou em recusar, mas ia tão contra os princípios dela… Ela queria se divertir e parecia ser uma ótima oportunidade, então aceitou e jogou tudo para os cosmos. Os problemas surgiram depois que sofreu um golpe no país. Depois de sofrer um golpe que tomou todo o dinheiro que tinha guardado, ela apresentou fortes indícios de ansiedade, depressão e pânico, e por mais que estava recebendo ajuda dos pais, se viu em um surto repentino analisando toda a vida sentada em sua poltrona premium que comprou com o cartão que tinha roubado de um alfa estúpido que enchia o saco dela. Estava voltando para a Coreia do Sul com um cartão de crédito roubado, teve seu cio durante o trajeto, os sapatos trocados e um sonho de ganhar na loteria para não ter que encarar a cara dos pais que tinham alertado a pequena omega sobre os perigos de se aventurar sozinha em outro país sendo tão vulnerável. Só que ela não acredita que os ômegas sejam vulneráveis, para ela, tudo o que aconteceu foi apenas sua péssima sorte agindo.
Usando suas últimas economias e gastando tudo no cartão antes dele ser bloqueado, pagou uns meses de aluguel em Eunbit Chae, em Jeju e comprou alguns móveis para o apartamento. Não ia durar muito, mas era um recomeço e teria seu espaço para voltar a gravar. Ela esperava gostar muito mais da sua vida agora e ter uma vida mais tranquila sem muitas loucuras por enquanto.
Apesar de ter uma rotina corrida e quase nunca sentir vontade de sair de casa, desde que chegou em Jeju, Kyungmi vinha se permitindo algumas aventuras. Lembrava de ter passado em frente a uma loja de música e, como boa sonhadora que era, entrou decidida: queria um baixo! Queria ser uma rockstar, pelo menos naquela tarde, e tocar todas as músicas da sua playlist "bajo bien bastardo".
Com um sorriso sonhador, piscou os olhos ao sair do devaneio e começou a dedilhar qualquer coisa que lhe vinha à cabeça — tudo completamente errado, mas ela não ligava. Não até Jae chamar sua atenção com aquele drama típico dele. Kyungmi revirou os olhos, negando com a cabeça, e ainda tocou mais algumas teclas só para provocá-lo, antes de cair na gargalhada. Foi então que aproveitou a deixa perfeita para imitar suas falas com ar teatral:
— Achocolatado? Por acaso você se esqueceu do que te ensinei sobre minha alergia a leite? — Era injusto, ela sabia. Mas também? Não se importava nem um pouco. Sabia que ele era um alfa... e aí mesmo que não ligava. Abriu um sorrisinho e sacudiu a cabeça. — Está querendo me matar lentamente com carinho? Tem refrigerante de morango? Ou de abacaxi? Talvez um suco de melão?
Enquanto ele decidia a bebida, Kyungmi voltou para o piano e tentou tocar “Someone Like You” da Adele — uma versão bem sofrida, diga-se de passagem. Mas pelo menos a voz dela compensava o desastre nas teclas.
⋆ㅤ⠀›ㅤ⠀starter fechado com @talktomi na loja de instrumentos
era engraçado como algumas conexões simplesmente aconteciam. a primeira vez que kyungmi entrou na loja tinha sido por acaso. ela entrou parecendo meio deslocada, como se tivesse tropeçado ali por engano. falaram sobre música, ele comentou algo sobre os tons de uma música que tocava no rádio da loja, e quando viu, já estava mostrando umas notas no piano. desde então, kyungmi aparecia de tempos em tempos, e jae — bem, jae começou a separar alguns minutos do dia pra ensinar uma coisa ou outra. especialmente no piano e no baixo. nada formal, nada forçado. mas naquela tarde… jae piscou, incrédulo, os ouvidos meio ofendidos com o massacre que ela acabara de fazer em cima de uma sequência simples. ❝ você esqueceu o que eu te ensinei? ❞ o tom era meio teatral, como se o coração dele tivesse acabado de partir. ele levantou dramaticamente do banquinho, caminhando em direção ao frigobar atrás do balcão. abriu a portinha e olhou pra dentro, procurando como se estivesse diante de uma grande decisão. ❝ refrigerante ou achocolatado? ❞ virou-se com as duas opções na mão, erguendo uma em cada lado.
Assim que sentiu o cara se aproximando, ela não pensou duas vezes: desferiu um chute certeiro bem entre as pernas dele — ou ao menos esperava que tivesse acertado. Não ficou para conferir. Saiu correndo até onde tinha visto um graveto mais encorpado, o tipo perfeito para virar arma improvisada. Com ele em mãos, virou-se de supetão, lançou um olhar furioso e empunhou o “pau-espada”.
— Olha só, se você estiver me seguindo feito um maluco, juro que vou arrancar essa sua cabecinha minúscula sem cérebro! Nem pense em se aproximar! — rosnou, mostrando os dentes como uma gata selvagem pronta pra briga.
Ajustou a madeira nas mãos e golpeou o ar como se estivesse ensaiando um ataque ninja.
— Eu sei lutar, tá legal? Faixa preta em alguma coisa que não vou revelar só pra manter o mistério. Então, fique aí mesmo e diga seu nome, endereço, idade, número do documento e onde trabalha. Agora.
Hocheol estava mantendo a outra em seu campo de visão apenas para garantir que ela chegaria em um local seguro e que aquele esquisito não a seguiria novamente. Chegou até mesmo a relaxar um pouco quando percebeu que tudo estava bem, pegando o celular por um momento para ver uma mensagem. No entanto, no momento em que ergueu os olhos novamente, a mulher já não estava mais ali.
O pior passou pela cabeça do promotor. Teria ela sido pega? Teria se machucado e rolado morro abaixo? Uma pitada de desespero para complementar a preocupação. Sendo assim, saiu apressado pelo caminho, olhando para os lados, procurando por qualquer sinal da outra. Se algo acontecesse, poderia mesmo ser considerado uma boa pessoa?
━ Onde que ela se enfiou? ━ Perguntou-se, parando perto de uma das árvores para dar uma outra olhada ao redor.
— Porque significa pelúcia! — Kyungmi respondeu, toda orgulhosa do próprio conhecimento. — E porque bichinhos são fofos, então acho que combina demais! — Ah, mas meow é tão bonitinho... — ela fez um biquinho nos lábios, mas acabou cedendo com uma risadinha. — Porém, concordo. — Kyungmi se animou ainda mais quando viu Xiaoli pegando o celular e deslizando por fotos de gatinhos lindos e fofinhos. Seus olhos brilhavam. — Eles são tão lindos! E os nomes são ainda mais perfeitos! Eu posso amassar eles qualquer dia? — A pergunta saiu tão pidona que ela nem tentou disfarçar. Com as bochechas coradas, caiu na risada. Xiaoli era tão engraçada e adorável. Kyungmi não resistia. — Por favor, agradeça muuuuuito por mim! — falou, ainda rindo. — Mas, olha... eu só faço academia ou qualquer exercício se você for comigo. Caso contrário, nada feito. Sério, eu odeio tanto... E pior ainda é ir sozinha. Preciso de apoio moral pra não acabar no cantinho comendo biscoitos.
— Peluche? Por que esse nome? — perguntou inclinando a cabeça, não entendendo a palavra que ela tinha dito. — Meow é a mesma vibe que colocar o nome do gato de gato. — Riu, puxando o celular de seu bolso para mostrar para ela fotos dos gatos que tinha na sua casa na China. — Olha só, esses aqui são os meus gatos! Rourou e Michu, bonitinhos né? — Mostrou algumas fotos e vídeos, fazendo parte daquela porcentagem de pessoas que não perde uma chance de mostrar seus bichinhos de estimação se tiver oportunidade. — E obrigada, vou mandar os seus agradecimentos a minha mãe. — Riu ao falar isso quando ela elogiou o seu nome, brincando. — Mas olha... sair para comprar croissant não é fitness, mas é melhor do que pedir para ser entregue em casa, pelo menos. — Balançou a cabeça para o que ela disse, achando engraçada a resposta que ela tinha dado. — Mas eu sou sim. Não fervorosa, até porque você acabou de ver eu quase morrendo depois de ter que correr atrás da Rosy, mas o suficiente para me manter em forma por causa do meu trabalho. Você devia tentar...! — A cutucou de leve no ombro, apenas para implicar. — Faz bem para a saúde.
Ao perceber a indignação na voz do homem, Kyungmi automaticamente fez uma carinha de coitadinha — reflexo imediato ao tom de reprovação. Ela nunca soube lidar bem com um "não", e isso sempre a deixava meio cabisbaixa. Porém, sua forma de reagir era, quase sempre, a pior possível: atacando.
— Me desculpe, senhor elegante… Mas, tecnicamente, você me deve um favor —falou com um suspiro dramático, fazendo um gesto exageraddo na direção da roupa dele.— Estava quase me cegando com esse brilho todo.
Não que a roupa fosse feia — na verdade, o homem estava incrivelmente bonito —, e Kyungmi sentia muito por ter derrubado a bebida nele. Mas, só pelo jeito ríspido com que ele a tratou, sua vontade de ser gentil evaporou.
Ela cruzou os braços e olhou para o lado, indignada. Sabia que a culpa tinha sido sua, mas o orgulho, ah, o orgulho, era maior do que a vontade de se encolher e pedir desculpas direito.
— Suas irmãs têm um gosto péssimo — resmungou baixinho, fazendo um leve beicinho. — Eu teria feito escolhas muito melhores. Inclusive, se quiser, posso te ajudar da próxima vez. É o mínimo que posso fazer depois de… arruinar sua noite.
Ela sugeriu com um gesto, tentando se fazer ouvir por cima da música alta. E mesmo contrariada, ela esticou a mão e pegou o braço dele, puxando-o de forma sutil, mas decidida, em direção ao DJ, como quem se recusa a deixar uma cena sem um desfecho digno.
— Você não vai mesmo me ajudar? — perguntou com a voz baixa, como se estivesse prestes a derramar uma lágrima. — Eu já expliquei… Foi um acidente. A escadinha, o vestido, o salto fino como uma lâmina… Olha só isso — levantou levemente o pé, exibindo o salto alto, como se fosse uma prova definitiva em um tribunal.
Ergueu o rosto devagar, encarando-o com olhos grandes e cheios de expectativa enquanto batia os cílios de forma exagerada.
— Por favor...? Está tudo dando errado pra mim essa semana… até as lâmpadas da minha casa queimaram! — falou com uma dor quase cômica, como se isso fosse o ápice de uma história muito triste. — Eu só queria ouvir uma música, dançar um pouco… E agora estou aqui, sendo julgada por arruinar um terno brilhante.
Estava começando a sentir o cansaço da festa, não era muito de ficar saindo assim, era uma pessoa mais caseira, então estava pensando se ia embora para casa ou se ficava mais um pouco. Mas antes de qualquer coisa, Haesoo queria beber pelo menos um pouquinho. Não era muito de álcool, mas estava sentindo um pouco de vontade por ver todo mundo bebendo. Foi atravessar o salão para ir atrás de uma bebida, talvez um champanhe, quando foi surpreendido ao ser atingido do nada por uma bebida. Ficou completamente sem reação por alguns segundos, tentando processar o que tinha acontecido, até ter a sua atenção chamada por uma risada.
Se antes Haesoo estava sem reação, agora vendo a mulher rir da situação que ela mesma causou e ainda colocando a culpa em si, piorava tudo mais ainda. Balançou a cabeça negativamente e resolveu que o melhor era não dar corda. Tentou fazer alguma coisa com a parte da sua roupa que estava molhada, mas nada iria adiantar, teria que colocar para lavar quando chegasse em casa e rezar para que não ficasse uma mancha. Mas novamente teve a sua atenção chamada pela mulher o pedindo um favor, o que fez com que a achasse muito abusada.
— Eu? — Apontou para si mesmo, com uma pontada de indignação na voz. — Quem devia fazer um favor aqui era você para mim. Você que fez eu ficar com a roupa toda suja assim e ainda quer me pedir para fazer algo para você? — Levantou uma sobrancelha para ela, desacreditado. Ela estava bêbada? — Você estragou a camisa que as minhas irmãs escolheram pra mim... — resmungou, tentando não deixar com que isso o afetasse muito.
Kyungmi odiava ter que ir à lavanderia. Ela simplesmente não nasceu pra esse tipo de vida, de jeito nenhum! Era sempre um caos: esquecia as próprias roupas, pegava as dos outros sem querer, e o pior — sempre tinha alguém querendo puxar papo justo quando ela estava com os fones no último volume, ouvindo Roxette como se fosse trilha sonora de um clipe esquisito. Por isso, decidiu ir num horário mais vazio. Apesar de ser extrovertida, Kyungmi também era um poço de contradição — tão introvertida quanto falante, dependendo do dia.
Enquanto esperava, ficou mexendo no seu velho MP4, até que resolveu pegar o Kindle e tentar ler alguma coisa. O livro era chato. Os protagonistas eram tão sem graça que ela quase torceu para algum deles morrer só pra ver se animava. Mas era o único livro que tinha, e reler os outros pela milésima vez estava fora de cogitação. Infelizmente, o cartão de crédito já tinha sido cancelado, então nem pensar em comprar um novo e muito menos assinar um plano. Só de lembrar disso, seu humor azedou. Fechou o Kindle com força e começou a andar pela lavanderia, cantarolando. Foi quando viu um cara mexendo nas calcinhas dela.
— Hey! Seu tarado! Larga aí minhas calcinhas! — berrou, dando um tapão nas costas largas dele, quase fazendo o MP4 voar da mão. Prioridades. — Xiiiii... xispa! Minhas calcinhas! Nem te servem, cara! Vai errabentar tudo, alargar o elástico, estragar o babado!
Tomou posse da cesta com dignidade ferida e ainda ameaçou dar mais uns tapas. Só que, no calor do momento, o fio do fone enroscou em alguma coisa, e a cesta caiu no chão. Lingeries espalhadas. A de babadinho. A calcinha de vó. Suas saias. E, como se não bastasse, aquela camisola ridícula que tinha a frase: “Yes, I'm slick. No, you can't touch”
Misericórdia. Até aquela tinha levado. Uma peça comprada por meme e pura zoeira — agora exposta ao julgamento alheio. Quis desfalecer ali mesmo, mas não era fraca. Ia sustentar.
Com uma expressão séria, tirou o fone (milagre que ainda estava pendurado em uma orelha) e encarou o homem de cima a baixo, avaliando com um olhar bem crítico.
— Olha só… por mais que eu seja boazinha e até empreste roupa de vez em quando, eu realmente acho que meu sutiã não vai caber em você — gesticulou com as mãos, feito um crítico da moda. — Por mais que você tenha uns peitões aí, acho que não rola nas costas. E essa camisola aqui? Não combina com a cor dos seus olhos. Aquela calcinha ali tá furada… ia pegar mal. E essa peça que você tá segurando? Definitivamente não te serve. Vai rasgar.
@talktomi reagiu 🧦 para um starter !!
Chanhyuk precisava comprar uma lava e seca urgentemente, mas enquanto isso não acontecia, a única lavanderia autosserviço do bairro teria que servir. Pra evitar fila e mais demora que o habitual, ele juntou toda a roupa suja dos últimos três dias e esperou passar das dez da noite pra sair de casa, com a esperança de que voltaria antes da madrugada.
Não tinha quase ninguém lá dentro mesmo, como esperado, quando a porta de entrada fez aquele barulho automático de seja bem vindo! e o ar condicionado gelado o atingiu em cheio. Com a disposição e elegância de quem tinha passado o dia inteiro em pé, mais de dez horas andando de lá pra cá atendendo clientes, Chanhyuk enrolou tudo na mão e socou a massaroca de roupa na primeira máquina disponível que viu pela frente. Isso, e porque as suas roupas cheiravam… Bom. Ao seu cheiro natural. Ele queria evitar ficar desfilando com elas debaixo do braço e acabar com alguém o reconhecendo, por mais mínimas que fossem as chances.
O processo a partir daí foi meio que tedioso. Chanhyuk arranjou um canto pra se sentar, puxou o celular, ficou rolando os reels do instagram até os olhos começarem a arder. Só se levantou quando a máquina apitou, e mesmo assim continuou com o nariz enfiado na tela, distraído. Jogou a pilha limpa de volta numa cesta e finalmente encarou, decidido ao último esforço da noite, de dobrá-las num padrão minimamente reconhecível antes de ir embora.
O que o encarou de volta com certeza não era seu. Tinha tanta cor, o seu cérebro cansado demorou pra processar a informação. Os seus dedos pinçaram uma saia, ou a faixa de tecido que ele supôs ser uma saia, e a ergueram no ar pra analisar mais de perto, enquanto as suas orelhas coloriram instantaneamente num cor-de-rosa ardido. Chanhyuk ficou um minuto inteiro travado igual tela azul, depois voou pra trás por instinto, como se tivesse enfiado a mão no fogo. A saia saiu voando também. Uma mortificação horrorosa se instalou no fundo do seu estômago.
“Isso é seu?!” Ele se escutou perguntar, numa vozinha quebrada, pra única dona possível das roupas. Quer dizer, Chanhyuk só poderia assumir, considerando o pedaço não identificado de renda que ficou enroscado na cesta. Os seus olhos retraíram rápido da imagem. Puta que pariu. Que um buraco abrisse do chão e o engolisse direto pro último círculo do inferno.
— Foi ontem o evento! — comentou com uma risada faceira, que aumentou ainda mais quando foi questionada. — Infelizmente, no momento, só tenho petiscos pra cachorrinhos, mas eu adoraria taaaaaaanto ter um gatinho! Acho que colocaria o nome dele de Meow. Ou talvez Peluche?
Kyungmi ficou pensativa por um instante, até notar que a moça finalmente se sentava ao seu lado. Aleluia! Olhar pra cima era um sacrifício, e a luz ainda incomodava seus olhos sensíveis.
— Wang Xiaoli? Que nome lindo!!! Combina perfeitamente com você — disse, oferecendo mais um sorriso doce. E quando ouviu que ela iria contar um segredo, Kyungmi se inclinou discretamente para ouvir melhor, como se estivessem conspirando. — Rá! Eu sabia! Você é linda demais. E obrigada, somos realmente duas gatonas.
Mas, assim como o sorriso apareceu com facilidade, também desapareceu rapidinho. Fitness? Jamais.
— Ai, mas aí já tá pedindo demais. Dá muito trabalho ser fitness. Será que não conta como exercício sair todos os dias pra comprar croissant na esquina? — perguntou com um olhar curioso, encarando a mulher que, além de bonita, era cheirosa, e isso Kyungmi definitivamente notou. — Você é fitness?
— E aí desde esse evento você vem andando com comida de cachorro na bolsa assim? — perguntou de forma curiosa, aceitando os petiscos oferecidos. — E para os gatos? Eles estão inclusos? — Lançou um olhar brincalhão para ela, fingindo estar a julgando.
Soltou um suspiro e sentou-se ao lado dela, resolvendo finalmente descansar de toda a correria que teve que fazer. — Eu me chamo Wang Xiaoli — se apresentou, rindo quando ela falou sobre parecer modelo de capa de revista. — Você acha? Pois vou te contar um segredo... — Colocou as mãos na frente da boca e sussurrou dramaticamente. — Eu sou modelo! E você também é muito linda. — Riu e firmou a coleira na sua mão quando notou Rosy tentando fugir novamente, a puxando. — E você devia parar de fingir ser fitness e ser de verdade.
Kyungmi tinha o vestido perfeito, comprado durante sua viagem ao Caribe, e não perderia aquele baile de máscaras por nada no mundo. Seu quarto estava uma verdadeira bagunça, com roupas e estojos de maquiagem espalhados por todos os cantos, mas isso era um problema para depois — o que importava agora era que ela estava deslumbrante. Diante do espelho, alisou os babados do vestido, ajeitou a cinta-liga na perna e fez uma pose ridícula antes de cair na gargalhada. Tirou uma foto rápida para enviar à melhor amiga, ansiosa por sua aprovação. E com razão, estava realmente estonteante com seu vestido branco creme repleto de babados e uma camada de renda delicada. O toque final —e ousado— era o corte desproporcional da peça, com a parte de trás longa o suficiente para contrastar com as pernas à mostra. Para completar o look da noite, uma máscara elegante e minimalista, perfeita na medida certa.
Ainda com os olhos arregalados, Kyungmi encarava o homem como se fosse capaz de cortá-lo em pedacinhos só com o olhar. Seus olhos brilharam em puro deleite ao vê-lo se encolher de dor, e quase riu, não por maldade, mas porque estava nervosa demais pra lidar direito com suas reações.
— Não sei se existe isso de perseguir alguém sem maldade. — Arqueou a sobrancelha, totalmente incrédula, e levantou a mão fechada em punho, ameaçando de novo. — E fica aí mesmo! — Estreitou os olhos, firme, esperando paciente como era Jesus, que ele respondesse tudo direitinho.
Ela se aproximou só um pouco, curiosa, para espiar o cartão. Olhou pra ele. Voltou pro cartão. Repetiu isso umas cinco vezes, como se estivesse decidindo se confiava ou não naquela história. POr fim, só se ajeitou e deu uns tapinhas imaginários na própria roupa, tirando a poeira invisível.
— Se eu te denunciar pro Ministério Público por perseguição, será que você seria o promotor do caso? — perguntou, visualizando toda a cena no tribunal, encarando ele se defendendo. — Que injustiça! Vou perder mesmo sem ter chance de me defender. — Ela suspirou fundo. — É bom mesmo que você não seja um maluco qualquer, porque eu não tô com grana pra advogado… e sinceramente, zero disposição pra passar meus dias numa cela.
Ela acertou, sim. Acertou até demais. Hocheol foi se encolhendo devagar, com as mãos à frente do corpo, a expressão dolorida. Entendia a reação dela, não podia julgá-la por se defender, mas Hocheol não queria ficar estéril naquele parque. Ergueu a mão aberta na direção dela, pedindo que a jovem esperasse enquanto ele se recuperava do impacto do chute em suas bolas. ━ Eu não estava te seguindo com maldade e não vou me aproximar. ━ Falou com um tom ainda dolorido, erguendo o tronco e ajeitando o corpo com um longo suspiro.
━ Eu sou Jeon Hocheol, tenho trinta e três anos, moro em Jinjuseong. Não posso te passar meu número de registro, mas posso te mostrar meu cartão. ━ Suspirou, pegando a própria carteira. Devagar, para evitar que a outra se assustasse e lhe atacasse novamente. ━ Aqui. ━ Estendeu o cartão na direção dela. ━ Sou promotor público.
Kyungmi soltou algumas risadinhas ao ver o jeitinho atrapalhado da mulher, então olhou para cima, depois na direção da pequena cachorrinha salsicha. Esticou o saquinho de petiscos e, sem pensar duas vezes, a canina veio toda rebolante, abanando o rabinho, até ela. Esperta que só, Kyungmi aproveitou o momento para segurar a cachorrinha com delicadeza e alisar o pelo macio e sedoso. Quando a dona finalmente se aproximou, Kyungmi ficou completamente encantada. A mulher era linda. De verdade. De tirar o fôlego.
— Não! Acredita que tenho vários desses na bolsa? Vou te dar alguns, presente para a Rosy! Sua cachorrinha é uma fofura. — sorriu, entregando alguns petiscos — Ganhei num evento sobre cães-guia que fui recentemente, ali pertinho daqui. Hoje só dei uma passadinha por aqui pra tomar um suco e fingir que sou fitness.
Ela se ajeitou na toalha e deu um tapinha no espaço ao lado, convidando a mulher para sentar.
— Me chamo Kyungmi! E você? — perguntou animada, antes de soltar com um sorrisinho. — Aliás, você é muito linda. Sério. Parece até modelo de capa de revista.
Já completamente sem fôlego e com as pernas doendo, Xiaoli se deixou cair no chão e ficar ali mesmo sentada enquanto respirava fundo. Só tinha desistido, pois viu uma mulher mostrar um pouco de compaixão com a sua situação e tentar ajudá-la a pegar a sua filha canina. Quando viu ela tirando um pacote de petiscos da bolsa, já sabia que Rosy ia parar por puro interesse guloso. — Ai, cadelinha má! Você vai ver só, eu vou te deixar sem petiscos por um mês inteiro! — ralhou com a cachorra quando ela realmente foi para perto da mulher. Se levantou e se aproximou, a prendendo na coleira novamente. — Nossa, ainda bem que você tinha petiscos com você... mas é normal? Você andar com petiscos por aí?