Cansada de atormentar as pessoas para dançar com ela e já tendo provado um pouco de cada taça, Kyungmi se viu presa no olhar de uma mulher que a encarava. Por precaução, ajustou sua máscara, sentindo timidez por alguns segundos, mas logo abriu um sorriso travesso e piscou na direção dela.
Quando a viu se aproximar, sorriu de leve, mas não conseguiu segurar uma gargalhada alta ao ouvir o que a mulher disse.
— Posso te dar uma dica da primeira letra do meu nome se você aceitar dançar comigo ali! — Kyungmi apontou para um cantinho mais reservado onde poderiam se divertir juntas. — E então, você topa?
𝐎𝐏𝐄𝐍 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐓𝐄𝐑 ;
☆ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀Boram estava encarando. Não era por mal, nem mesmo muito consciente depois da terceira taça de champanhe. A curiosidade se iniciou pela roupa de muse, estava fascinada. Então, se pegou encarando o rosto mascarado. Estava um tantinho longe, a luz era baixa, não dava para arriscar um palpite de quem estaria por baixo. Infelizmente, só percebeu o que fazia quando percebeu que estava sendo encarada. Com um suspiro rendido, se aproximou e foi deixar suas desculpas: ━━ Desculpe ficar encarando, só estava tentando descobrir quem era...
Kyungmi estava empolgada para descobrir para onde Sunbin a estava levando. Tudo indicava que iriam ver o pôr do sol, e só essa possibilidade já a fazia vibrar de animação. Ela adorava apreciar paisagens bonitas, e era ainda melhor quando podia compartilhar o momento com alguém. Enlaçou o braço no da outra mulher, exibindo um sorriso enorme e genuinamente contente. — Outro universo? Agora você me deixou curiosa! Deve ser tão lindo… Acho que vou me apaixonar na hora — declarou, cheia de entusiasmo. — Você vem aqui sempre?
˛⠀⠀⋆⠀ㅤstarter fechado com @talktomi no parque costeiro de yongso
sunbin estava animada — o que, por consequência natural do universo, significava que ela estava ainda mais falante do que o normal. as palavras escapavam sem freio, acompanhadas de sorrisos, gestos empolgados e o brilho nos olhos. quando reconheceu kyungmi perto do pier, não hesitou em puxar assunto até que a ideia surgiu. ❝ você quer ver algo maravilhoso? ❞ perguntou, já tomando a frente e guiando a moça por entre os passantes. o céu começava a se tingir de dourado, e o vento carregava o cheiro salgado do mar, levantando a barra do vestido de sunbin enquanto ela descia as escadas do pier com cuidado, olhando por cima do ombro para se certificar de que kyungmi a seguia. ❝ vem, é logo ali ❞ pontou para um dos barcos tradicionais atracados ❝ você já fez esse passeio? é uma das melhores visões do pôr do sol ❞ explicou, com um sorriso suave agora ❝ a luz reflete no mar e fica simplesmente mágico. parece... outro universo ❞
Kyungmi estava se divertindo enquanto cuidava dos filhotinhos de cachorro. Tinha encontrado um anúncio da Universidade de Cheju Halla na internet e se inscreveu no evento no mesmo instante, afinal, quem em sã consciência recusaria um dia inteiro com doguinhos treinados para se tornarem cães-guia?
Ela estava radiante, acariciando as barriguinhas peludas e até latindo de volta para alguns que a respondiam com aqueles ganidos fofos. Sabia que os cães mais velhos não podiam receber esse tipo de carinho tão livremente, então se esbaldava com os filhotes. O problema era que... ela queria um. Um pet. Qualquer pet. Cachorro, gato, talvez até uma tartaruga dramática mordedora de pé. A vontade era tanta que começou a sentir uma leve tristeza crescendo no peito.
Foi quando pediram para ela levar um casal de filhotinhos até uma salinha mais silenciosa para descansarem. Sem pensar duas vezes, ela já estava ninando os pequenos nos braços como se fossem seus bebês. Só que, ao se aproximar da tal sala, percebeu que não estava vazia, havia alguém lá dentro. Seus olhos brilharam. Mais alguém pra conversar sobre como aqueles doguinhos!
Cheia de energia, escancarou a porta num impulso e só se deu conta do erro quando os filhotes reclamaram da luz com choramingos tristes. Fechou a porta num estalo e fez uma careta de desculpas.
Só não contava em ser recebida com um comentário malcriado daquele cara que estava na sala.
— Se eu soubesse ler, teria lido, tá?! — rebateu na defensiva, já recuando com as costas na porta e tentando abri-la de novo.
Mas a porta... não abriu. Ela girou a maçaneta mais uma vez. Nada. Respirou fundo e soltou um suspiro dramático, já aceitando o destino trágico de estar presa com um antipático. Bateu a mão pela roupa que usava e se deu conta que não estava nem com o celular. Ótimo, agora tinha mais isso para adicionar em sua grande lista de derrotas.
Sim, havia uma placa no chão. Sim, ela leu. E sim, chutou a bendita pro canto antes que o homem notasse. Paciência. Não que fosse mudar alguma coisa agora. Estavam trancados.
oh viver seu primeiro clichê! ( pelo menos tem cachorrinhos ) @talktomi
O evento era na Universidade de Cheju Halla, e alguns dos professores haviam se disponibilizado para auxiliar a instituição que treina cães guias. Yoonhak já muito namorava a ideia de adotar um bichinho, mas o fato de hesitar demais já lhe era um sinal vermelho. Aceitar ajudar no evento que apresentava todo o trabalho da organização, bem como os futuros cachorros que seriam a visão de alguém, foi uma tentativa de se ajudar também. No ginásio enorme, vários cercados tinham sido montados. Não queriam arriscar uma das chuvas surpresas da primavera. Entre os filhotes de labradores e golden, e outros não tão filhotes mais, Yoonhak sorria muito mais que o normal. Se encontrava energizado e encantado. Yoonhak quase não ouviu quando pediram para que ele fosse buscar mais garrafas de água na salinha que estavam a usar não só como estoque, mas um lugar para deixar os cachorrinhos mais novinhos que dormiam. Não que fossem mantê-los ali, mas, se havia entendido correto, eles tinham lá seu momento necessário de descanso e a agitação e barulheira de fora era boa. Ele foi, e devia ter prestado mais atenção na sua intuição que gritou que as fitas que seguravam papel colocado na porta, avisando para que não fechasse completamente, não aguentaria muito. Era a única sala que tinham no ginásio, no entanto. Yoonhak entrou tentando deixar o prendedor bem colocado na soleira da porta, não podendo deixá-la aberta por completo pelos cachorrinhos amontoados atrás de outro cercado montado. De costas, tirando os pacotes com galões de água de um 1L, Yoonhak só ouviu o som do trinco batendo. Ele se virou com o peso nos braços e a maior cara de: mentira, cara. “Tinha literalmente uma placa na porta, ô, caralho.” não conseguiu engolir nem o suspiro alto. Foi automático lembrar que ao menos ele nem com o celular estava - um belo clichê.
Kyungmi odiava ter que ir à lavanderia. Ela simplesmente não nasceu pra esse tipo de vida, de jeito nenhum! Era sempre um caos: esquecia as próprias roupas, pegava as dos outros sem querer, e o pior — sempre tinha alguém querendo puxar papo justo quando ela estava com os fones no último volume, ouvindo Roxette como se fosse trilha sonora de um clipe esquisito. Por isso, decidiu ir num horário mais vazio. Apesar de ser extrovertida, Kyungmi também era um poço de contradição — tão introvertida quanto falante, dependendo do dia.
Enquanto esperava, ficou mexendo no seu velho MP4, até que resolveu pegar o Kindle e tentar ler alguma coisa. O livro era chato. Os protagonistas eram tão sem graça que ela quase torceu para algum deles morrer só pra ver se animava. Mas era o único livro que tinha, e reler os outros pela milésima vez estava fora de cogitação. Infelizmente, o cartão de crédito já tinha sido cancelado, então nem pensar em comprar um novo e muito menos assinar um plano. Só de lembrar disso, seu humor azedou. Fechou o Kindle com força e começou a andar pela lavanderia, cantarolando. Foi quando viu um cara mexendo nas calcinhas dela.
— Hey! Seu tarado! Larga aí minhas calcinhas! — berrou, dando um tapão nas costas largas dele, quase fazendo o MP4 voar da mão. Prioridades. — Xiiiii... xispa! Minhas calcinhas! Nem te servem, cara! Vai errabentar tudo, alargar o elástico, estragar o babado!
Tomou posse da cesta com dignidade ferida e ainda ameaçou dar mais uns tapas. Só que, no calor do momento, o fio do fone enroscou em alguma coisa, e a cesta caiu no chão. Lingeries espalhadas. A de babadinho. A calcinha de vó. Suas saias. E, como se não bastasse, aquela camisola ridícula que tinha a frase: “Yes, I'm slick. No, you can't touch”
Misericórdia. Até aquela tinha levado. Uma peça comprada por meme e pura zoeira — agora exposta ao julgamento alheio. Quis desfalecer ali mesmo, mas não era fraca. Ia sustentar.
Com uma expressão séria, tirou o fone (milagre que ainda estava pendurado em uma orelha) e encarou o homem de cima a baixo, avaliando com um olhar bem crítico.
— Olha só… por mais que eu seja boazinha e até empreste roupa de vez em quando, eu realmente acho que meu sutiã não vai caber em você — gesticulou com as mãos, feito um crítico da moda. — Por mais que você tenha uns peitões aí, acho que não rola nas costas. E essa camisola aqui? Não combina com a cor dos seus olhos. Aquela calcinha ali tá furada… ia pegar mal. E essa peça que você tá segurando? Definitivamente não te serve. Vai rasgar.
@talktomi reagiu 🧦 para um starter !!
Chanhyuk precisava comprar uma lava e seca urgentemente, mas enquanto isso não acontecia, a única lavanderia autosserviço do bairro teria que servir. Pra evitar fila e mais demora que o habitual, ele juntou toda a roupa suja dos últimos três dias e esperou passar das dez da noite pra sair de casa, com a esperança de que voltaria antes da madrugada.
Não tinha quase ninguém lá dentro mesmo, como esperado, quando a porta de entrada fez aquele barulho automático de seja bem vindo! e o ar condicionado gelado o atingiu em cheio. Com a disposição e elegância de quem tinha passado o dia inteiro em pé, mais de dez horas andando de lá pra cá atendendo clientes, Chanhyuk enrolou tudo na mão e socou a massaroca de roupa na primeira máquina disponível que viu pela frente. Isso, e porque as suas roupas cheiravam… Bom. Ao seu cheiro natural. Ele queria evitar ficar desfilando com elas debaixo do braço e acabar com alguém o reconhecendo, por mais mínimas que fossem as chances.
O processo a partir daí foi meio que tedioso. Chanhyuk arranjou um canto pra se sentar, puxou o celular, ficou rolando os reels do instagram até os olhos começarem a arder. Só se levantou quando a máquina apitou, e mesmo assim continuou com o nariz enfiado na tela, distraído. Jogou a pilha limpa de volta numa cesta e finalmente encarou, decidido ao último esforço da noite, de dobrá-las num padrão minimamente reconhecível antes de ir embora.
O que o encarou de volta com certeza não era seu. Tinha tanta cor, o seu cérebro cansado demorou pra processar a informação. Os seus dedos pinçaram uma saia, ou a faixa de tecido que ele supôs ser uma saia, e a ergueram no ar pra analisar mais de perto, enquanto as suas orelhas coloriram instantaneamente num cor-de-rosa ardido. Chanhyuk ficou um minuto inteiro travado igual tela azul, depois voou pra trás por instinto, como se tivesse enfiado a mão no fogo. A saia saiu voando também. Uma mortificação horrorosa se instalou no fundo do seu estômago.
“Isso é seu?!” Ele se escutou perguntar, numa vozinha quebrada, pra única dona possível das roupas. Quer dizer, Chanhyuk só poderia assumir, considerando o pedaço não identificado de renda que ficou enroscado na cesta. Os seus olhos retraíram rápido da imagem. Puta que pariu. Que um buraco abrisse do chão e o engolisse direto pro último círculo do inferno.
— Claro que precisa subir! Ou você acha que lá de cima, quase no céu, ele vai me ouvir daqui de baixo? — Revirou os olhos.
Kyungmi estava a um passo de começar um monólogo cheio de argumentos extremamente válidos para convencer o homem à sua frente, mas optou por apertar os lábios e encará-lo com os olhos estreitos, como quem julga em silêncio e com muita intensidade. Ela queria muito rebater. Queria bater no peito dele e soltar um indignado: "E aí, cara, tá tirando com a minha cara? Por que eu teria que pedir? Eu não peço nada pra ninguém!" …Mas ela pedia. Pedia muito. Pedia até desconto em cupom que já tinha vencido. Então, só suspirou e fez uma micro carinha de coitadinha por dentro.
Mas, ahá! Ele ia ajudá-la. Ela já estava prestes a fazer uma dancinha da vitória improvisada, quando, do nada, sentiu os pés saindo do chão e soltou um gritinho engasgado de susto. Mas o quê?! O homem simplesmente a pegou no colo como se ela fosse um saco de arroz no meio do caminho e estava subindo a escadinha com a maior naturalidade do mundo, como se estivesse entregando esse mesmo saco de arroz no palco.
— Ya! Você que vai morrer! Meu deus, eu vou morrer. A gente vai morrer! — falou, dando tapas no braço e nas costas dele, fazendo uma careta de puro desgosto. — Você não gosta de perder, né? Confessa!
Haesoo ficou parado, olhando para a mulher dar toda a sua explicação do porquê ela não podia ir pedir uma música para o DJ. Vendo todo o jeito espalhafatoso dela e a forma como ela falava, ele se perguntava se esse era o jeito normal dela ou se ela estava assim por ter bebido. Tinha ficado realmente curioso sobre isso.
Soltou uma risadinha quando ela falou dos degraus e mostrou seu sapato novamente, ainda mais com o exagero dizendo que poderia morrer se pisasse lá.
— Mas eu nem sabia que tinha que subir escadas pra pedir uma música... — falou tentando se defender do jeito que ela tinha falado, como se ele fosse burro ou algo assim. — Mas olha... eu ainda acho que você quem tem que pedir! — Olhou para ela, travando no lugar e não deixando com que ela o empurrasse mais para a escada.
— Eu vou te ajudar..., mas se você quer uma música, então você que tem que pedir por ela — declarou, colocando um ponto final no assunto e, sem esperar muito, se aproximou dela e a pegou no colo, começando a subir as escadas com ela nos braços. — Agora você não vai morrer.
Assim que sentiu o cara se aproximando, ela não pensou duas vezes: desferiu um chute certeiro bem entre as pernas dele — ou ao menos esperava que tivesse acertado. Não ficou para conferir. Saiu correndo até onde tinha visto um graveto mais encorpado, o tipo perfeito para virar arma improvisada. Com ele em mãos, virou-se de supetão, lançou um olhar furioso e empunhou o “pau-espada”.
— Olha só, se você estiver me seguindo feito um maluco, juro que vou arrancar essa sua cabecinha minúscula sem cérebro! Nem pense em se aproximar! — rosnou, mostrando os dentes como uma gata selvagem pronta pra briga.
Ajustou a madeira nas mãos e golpeou o ar como se estivesse ensaiando um ataque ninja.
— Eu sei lutar, tá legal? Faixa preta em alguma coisa que não vou revelar só pra manter o mistério. Então, fique aí mesmo e diga seu nome, endereço, idade, número do documento e onde trabalha. Agora.
Hocheol estava mantendo a outra em seu campo de visão apenas para garantir que ela chegaria em um local seguro e que aquele esquisito não a seguiria novamente. Chegou até mesmo a relaxar um pouco quando percebeu que tudo estava bem, pegando o celular por um momento para ver uma mensagem. No entanto, no momento em que ergueu os olhos novamente, a mulher já não estava mais ali.
O pior passou pela cabeça do promotor. Teria ela sido pega? Teria se machucado e rolado morro abaixo? Uma pitada de desespero para complementar a preocupação. Sendo assim, saiu apressado pelo caminho, olhando para os lados, procurando por qualquer sinal da outra. Se algo acontecesse, poderia mesmo ser considerado uma boa pessoa?
━ Onde que ela se enfiou? ━ Perguntou-se, parando perto de uma das árvores para dar uma outra olhada ao redor.
— Porque significa pelúcia! — Kyungmi respondeu, toda orgulhosa do próprio conhecimento. — E porque bichinhos são fofos, então acho que combina demais! — Ah, mas meow é tão bonitinho... — ela fez um biquinho nos lábios, mas acabou cedendo com uma risadinha. — Porém, concordo. — Kyungmi se animou ainda mais quando viu Xiaoli pegando o celular e deslizando por fotos de gatinhos lindos e fofinhos. Seus olhos brilhavam. — Eles são tão lindos! E os nomes são ainda mais perfeitos! Eu posso amassar eles qualquer dia? — A pergunta saiu tão pidona que ela nem tentou disfarçar. Com as bochechas coradas, caiu na risada. Xiaoli era tão engraçada e adorável. Kyungmi não resistia. — Por favor, agradeça muuuuuito por mim! — falou, ainda rindo. — Mas, olha... eu só faço academia ou qualquer exercício se você for comigo. Caso contrário, nada feito. Sério, eu odeio tanto... E pior ainda é ir sozinha. Preciso de apoio moral pra não acabar no cantinho comendo biscoitos.
— Peluche? Por que esse nome? — perguntou inclinando a cabeça, não entendendo a palavra que ela tinha dito. — Meow é a mesma vibe que colocar o nome do gato de gato. — Riu, puxando o celular de seu bolso para mostrar para ela fotos dos gatos que tinha na sua casa na China. — Olha só, esses aqui são os meus gatos! Rourou e Michu, bonitinhos né? — Mostrou algumas fotos e vídeos, fazendo parte daquela porcentagem de pessoas que não perde uma chance de mostrar seus bichinhos de estimação se tiver oportunidade. — E obrigada, vou mandar os seus agradecimentos a minha mãe. — Riu ao falar isso quando ela elogiou o seu nome, brincando. — Mas olha... sair para comprar croissant não é fitness, mas é melhor do que pedir para ser entregue em casa, pelo menos. — Balançou a cabeça para o que ela disse, achando engraçada a resposta que ela tinha dado. — Mas eu sou sim. Não fervorosa, até porque você acabou de ver eu quase morrendo depois de ter que correr atrás da Rosy, mas o suficiente para me manter em forma por causa do meu trabalho. Você devia tentar...! — A cutucou de leve no ombro, apenas para implicar. — Faz bem para a saúde.
Ainda com os olhos arregalados, Kyungmi encarava o homem como se fosse capaz de cortá-lo em pedacinhos só com o olhar. Seus olhos brilharam em puro deleite ao vê-lo se encolher de dor, e quase riu, não por maldade, mas porque estava nervosa demais pra lidar direito com suas reações.
— Não sei se existe isso de perseguir alguém sem maldade. — Arqueou a sobrancelha, totalmente incrédula, e levantou a mão fechada em punho, ameaçando de novo. — E fica aí mesmo! — Estreitou os olhos, firme, esperando paciente como era Jesus, que ele respondesse tudo direitinho.
Ela se aproximou só um pouco, curiosa, para espiar o cartão. Olhou pra ele. Voltou pro cartão. Repetiu isso umas cinco vezes, como se estivesse decidindo se confiava ou não naquela história. POr fim, só se ajeitou e deu uns tapinhas imaginários na própria roupa, tirando a poeira invisível.
— Se eu te denunciar pro Ministério Público por perseguição, será que você seria o promotor do caso? — perguntou, visualizando toda a cena no tribunal, encarando ele se defendendo. — Que injustiça! Vou perder mesmo sem ter chance de me defender. — Ela suspirou fundo. — É bom mesmo que você não seja um maluco qualquer, porque eu não tô com grana pra advogado… e sinceramente, zero disposição pra passar meus dias numa cela.
Ela acertou, sim. Acertou até demais. Hocheol foi se encolhendo devagar, com as mãos à frente do corpo, a expressão dolorida. Entendia a reação dela, não podia julgá-la por se defender, mas Hocheol não queria ficar estéril naquele parque. Ergueu a mão aberta na direção dela, pedindo que a jovem esperasse enquanto ele se recuperava do impacto do chute em suas bolas. ━ Eu não estava te seguindo com maldade e não vou me aproximar. ━ Falou com um tom ainda dolorido, erguendo o tronco e ajeitando o corpo com um longo suspiro.
━ Eu sou Jeon Hocheol, tenho trinta e três anos, moro em Jinjuseong. Não posso te passar meu número de registro, mas posso te mostrar meu cartão. ━ Suspirou, pegando a própria carteira. Devagar, para evitar que a outra se assustasse e lhe atacasse novamente. ━ Aqui. ━ Estendeu o cartão na direção dela. ━ Sou promotor público.
Kyungmi não costumava sair aos domingos de manhã, mas o dia já tinha começado estranho desde o momento em que acordou cedo por vontade própria, impulsivamente decidida a caminhar ao ar livre. Tinha planos simples de gravar um vlogzinho, não para postar, só pela diversão de fazer um mini piquenique sozinha. No entanto, quando se deu conta, já estava em meio a uma trilha e bem mais longa do que o esperado.
A vegetação era bonita, o céu estava igualmente belo — meio melancólico, se fosse sincera, mas ainda assim bonito. Tudo parecia em perfeita harmonia... Até sentir aquela sensação esquisita percorrer sua espinha. O típico arrepio desconfortável, como se estivesse sendo observada. Perseguida.
Em um impulso corajoso (e um tantinho paranoico), espiou por cima do ombro enquanto caminhava, e teve certeza que estava sendo seguida. Virou numa bifurcação estreita da trilha... E a tal pessoa virou logo atrás.
Sua mente entrou em colapso. Já se via dando “oi” de camarote para os habitantes de Valhalla, porque se fosse morrer, ia fazer isso lutando. Apesar disso, ela não era do tipo que entrava em pânico fácil. Respirou fundo, olhou discretamente de novo, e, para sua surpresa, não havia ninguém. Um alívio imediato relaxou seus ombros, e ela diminuiu o ritmo para aproveitar a caminhada novamente.
Só que mal teve tempo de curtir a paz. Quando o laço caiu do cabelo, ela sentiu — aquela sensação voltou. Intensa, arrepiando cada pelinho da nuca. Alguém (ou alguma coisa?) estava a seguindo outra vez. Mas de onde? Por que tão silencioso? Fantasma? Alma penada? Um bicho? Um ninja?
— É hoje. A braba vai de base — suspirou, já aceitando seu destino como protagonista de um documentário do Investigação Discovery.
Acelerou o passo. Quase correu. Virou na primeira trilha à vista e encostou-se atrás de uma árvore, esperando. Enquanto o silêncio reinava, ela começou a revisar mentalmente todos os golpes de judô que sabia. Jiu-jitsu sabia gritar "kiai", então riscou da lista. Aulas de defesa pessoal teve algumas! (Ela tinha feito três aulas de defesa pessoal e assistido “Karate Kid” umas dez vezes)... Se fosse atacada, o perseguidor que se preparasse. E muito. "Eu sou LEE KYUNGMI! E mesmo azarada, ainda sou um perigo com duas pernas!" — pensou, tremendo, mas mantendo a pose.
where. jardins hwan
with. @talktomi
when. um domingo de manhã
Hocheol já havia ouvido falar daquele lugar, mas coube a ele ir até lá para averiguar se era bonito mesmo. Sem dúvidas, era um local agradável, familiar e silencioso, perfeito para introvertidos como ele. E gente esquisita também. Não era a primeira vez que ele recebia casos de perseguição no parque, então para atestar se era verdade ou não, ele precisou ir até lá.
Caminhava por uma das trilhas quando percebeu uma mulher e um homem. Não pareciam juntos porque a distância era grande, então achou estranho e tomou o mesmo caminho que os dois. Não demorou até o homem perceber a presença de Hocheol, desviando o caminho logo em seguida. Poderia ter ido atrás dele, mas quem garante que não teria outra pessoa com ele para continuar indo atrás daquela mulher? Sendo assim, Hocheol decidiu por continuar atrás dela, para protegê-la de qualquer coisa.
Kyungmi tinha o vestido perfeito, comprado durante sua viagem ao Caribe, e não perderia aquele baile de máscaras por nada no mundo. Seu quarto estava uma verdadeira bagunça, com roupas e estojos de maquiagem espalhados por todos os cantos, mas isso era um problema para depois — o que importava agora era que ela estava deslumbrante. Diante do espelho, alisou os babados do vestido, ajeitou a cinta-liga na perna e fez uma pose ridícula antes de cair na gargalhada. Tirou uma foto rápida para enviar à melhor amiga, ansiosa por sua aprovação. E com razão, estava realmente estonteante com seu vestido branco creme repleto de babados e uma camada de renda delicada. O toque final —e ousado— era o corte desproporcional da peça, com a parte de trás longa o suficiente para contrastar com as pernas à mostra. Para completar o look da noite, uma máscara elegante e minimalista, perfeita na medida certa.
O som das ondas era perfeito. Kyungmi estava completamente apaixonada por tudo ali, desde o vai e vem da maré até o cheiro salgado e inconfundível da praia. Era tão bom sentir o vento brincando com seus cabelos, batendo contra o rosto aquecido. Ela se virou para a amiga ao lado e abriu um sorriso largo. — É um lugar muito especial, então. Eu gostei disso. Ele é ótimo. — Concordou com a cabeça, deixando que Sunbin a puxasse suavemente para guiá-la pelo caminho.
A surpresa veio ao avistar o barco. Os olhos dela brilharam com um misto de espanto e animação. A empolgação cresceu, mas logo deu espaço a uma pontinha de preocupação: como ela iria subir ali? Por sorte, sua amiga ofereceu a mão, e Kyungmi aceitou sem pensar duas vezes. Ela quase soltou um gritinho quando sentiu o balanço leve do barco, mas engoliu o som antes que escapasse. Não queria parecer medrosa... e, principalmente, não queria que Sunbin desistisse da aventura por causa disso.
— Okay... — murmurou, concentrando-se nas dicas da amiga. Subiu com cuidado, pisando firme, deixando o corpo ir junto. Fechou os olhos com força quando percebeu que já estava lá dentro. — Yay! Consegui! Isso é muito legal. Você costuma vir sozinha?
Soltou o ar devagar, se permitindo relaxar um pouco, e lançou um olhar curioso.
— Já caiu alguma vez?
sunbin apertou de leve o braço de kyungmi, guiando-as com passos tranquilos pela trilha de madeira que levava até o píer. o som das ondas se misturava ao canto das gaivotas, e o cheiro salgado da brisa do mar fazia cócegas suaves em seu nariz. ❝ não venho sempre ❞, respondeu, num tom calmo, quase melódico. ❝ é o tipo de lugar que guardo pra quando eu preciso respirar, lembrar que o mundo é maior do que parece ❞ completou, antes de puxar gentilmente kyungmi pela mão, acelerando um pouco os passos. os barquinhos já balançavam suavemente, presos às cordas, pintando pequenas silhuetas contra o reflexo dourado da água.
sunbin tirou algumas notas dobradas do bolso do casaco e entregou calmamente ao barqueiro, agradecendo com um aceno discreto de cabeça. ele assentiu e começou a soltar a amarra enquanto se afastava para dar espaço às duas. ❝ vem, eu te ajudo ❞ disse com a voz suave, estendendo a mão para kyungmi. a madeira do píer balançava levemente com o movimento da maré, e o barquinho não era exatamente estável — mas sunbin já tinha feito aquilo antes. firmou os pés com cuidado, entrou primeiro, e depois virou-se, segurando a mão da amiga com firmeza e puxando-a com delicadeza. ❝ devagar, só pisar no meio e deixar o corpo ir junto ❞ orientou, os olhos atentos, prontos pra qualquer sinal de desequilíbrio.